sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Células estaminais sem efeitos secundários indesejáveis?

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Vírus da constipação poderá ser a chave
Células estaminais sem efeitos secundários indesejáveis?

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As células estaminais embrionárias são uma das esperanças da medicina do futuro: em princípio, devem permitir, a partir das células de um doente, gerar tecidos e órgãos biocompatíveis com esse doente. Porém, a sua produção levanta problemas; por isso, mais recentemente, o interesse virou-se também para células estaminais “quase embrionárias”, relativamente fáceis de produzir. Só que a sua utilização apresentava grandes riscos potenciais para a saúde. Agora, talvez a solução esteja à vista: na edição online de hoje da revista Science, cientistas de Harvard concluem que um vírus da constipação poderá ser a chave para a produção de células deste tipo desprovidas de efeitos secundários graves.
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Um pouco por todo o mundo, têm-se procurado maneiras de obter células estaminais embrionárias, pois elas prometem servir um dia para tratar a doença de Alzheimer ou resolver a escassez de órgãos para transplante. Mas, até há cerca de um ano, a obtenção deste tipo de células apresentava um grande obstáculo – que não era, aliás, de ordem científica: pensava-se que, para as criar, era necessário clonar embriões a partir das células dos doentes (da mesma forma como foi clonada a ovelha Dolly). Esses embriões humanos não se desenvolveriam mais do que uns dias no laboratório, até ao estádio de uma bolinha com um punhado de células – o suficiente para colher as suas células estaminais – mas, mesmo assim, a ideia levantava questões morais que muitos governos e uma parte da opinião pública não estavam dispostos a ignorar.
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Muitos cientistas continuam a explorar esta via mas, entretanto, ao longo de 2007, uma equipa japonesa primeiro e outras depois mostraram que não era obrigatório clonar embriões para se chegar a estas células (ou pelo menos a algo de muito parecido), ao conseguirem obter, por outra via, células aparentemente tão “embrionárias” como as verdadeiras células estaminais embrionárias. Para isso, simplesmente, “reprogramaram” directamente os genes de células da pele adultas (de ratinho e humanas). Estas novas células, a que deram o nome de células pluripotentes estaminais induzidas ou células IPS (induced pluripotent stem cells), forneciam uma alternativa à clonagem e fizeram com que o próprio George W. Bush e até o Papa louvassem a descoberta.
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Mas as células IPS apresentavam um grande problema – técnico, desta vez: é que, para introduzir nas células da pele adultas os genes necessários à sua reprogramação em células IPS, usavam-se vírus que se inseriam para sempre no ADN dessas células. Ora acontece que um dos genes necessários para efectuar a reprogramação celular e conseguir que as células da pele recuassem no tempo e se tornassem novamente “embrionárias”, era um gene, chamado c-myc, que tem o mau gosto de provocar cancros. E o que se constatou nos meses a seguir foi que embriões de ratinho a quem essas células IPS tinham sido injectadas – precisamente para mostrar que elas se comportavam como células embrionárias – desenvolviam tumores malignos.
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Agora, Matthias Stadtfeld e colegas deram um passo importante na eliminação desse obstáculo, utilizando um vírus da constipação – um adenovírus – para introduzir os genes de reprogramação em culturas de células adultas de ratinho. Os adenovírus, ao contrário de outros vírus, não precisam de se integrar no ADN das células que infectam para activar os genes que transportam e a sua presença nas células-alvo é portanto transitória. Isto seria um inconveniente se fosse preciso manter durante muito tempo a acção dos genes introduzidos, mas como para reprogramar as células adultas em células IPS apenas é preciso que os genes em causa se activem temporariamente, o estratagema funciona.
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Até agora, dizem os cientistas, ainda não observaram qualquer efeito adverso destas células IPS nos ratinhos em cujos embriões as injectaram – e que permitiram constatar que elas eram capazes de dar origem a células pulmonares, cerebrais, cardíacas, etc.. Resta porém, avisam, saber se o mesmo resultará com células humanas.(Público)
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