Falta de equipamentos de radioterapia é um dos maiores problemas
Médicos alertam para resultados “sofríveis” no cancro
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O coordenador nacional para as doenças oncológicas, Pedro Pimentel, admite que possa haver situações de doentes que esperam tanto tempo para iniciar o tratamento em radioterapia que têm que voltar a ser operados porque os tumores crescem de novo. Hoje é divulgado um documento subscrito pelos especialistas em oncologia que alerta para os resultados “sofríveis” na área do cancro e para as dificuldades dos doentes no acesso a tratamentos.
Médicos alertam para resultados “sofríveis” no cancro
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O coordenador nacional para as doenças oncológicas, Pedro Pimentel, admite que possa haver situações de doentes que esperam tanto tempo para iniciar o tratamento em radioterapia que têm que voltar a ser operados porque os tumores crescem de novo. Hoje é divulgado um documento subscrito pelos especialistas em oncologia que alerta para os resultados “sofríveis” na área do cancro e para as dificuldades dos doentes no acesso a tratamentos.
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A carta de princípios é assinada pelos presidentes dos colégios de especialidade da Ordem dos Médicos de Oncologia Médica e Radioterapia e pela presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia. Apesar dos progressos identificados, o diagnóstico não é animador: “O nosso país apresenta ainda resultados sofríveis no que se refere ao tratamento de neoplasias malignas, quando consideradas as taxas de mortalidade e de sobrevivência aos cinco anos”.
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O documento destaca ainda “as dificuldades existentes para os doentes no que respeita a alguns meios de diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas, como por exemplo a radioterapia ou a anatomia patológica”. Um dos pontos mais críticos é a falta de equipamentos de radioterapia. O alerta sobre a existência de doentes que esperam demasiado tempo pela radioterapia e têm que voltar a ser operados foi deixado pela alta comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, numa entrevista ao PÚBLICO.
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Pedro Pimentel admite que este tipo de situações possa ter lugar. Fazendo o ponto da situação, o responsável diz que o actual sistema de encaminhamento de doentes pode estar a aumentar os tempos de espera. Por decisão do Ministério da Saúde (MS), o sistema mudou há dois anos e, em vez de os hospitais sem radioterapia encaminharem directamente para centros privados, têm desde então que os enviar primeiro para centros públicos. Só se estes não tiverem capacidade de resposta podem reencaminhar para privados. “O modelo criado pode dilatar o tempo de espera do doente. É uma situação que necessita de correcção.” Cinquenta a 60 por cento dos doentes com cancro têm indicação para radioterapia.
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Entre o diagnóstico ou cirurgia e a radioterapia não devem passar mais de três a quatro semanas, refere Helena Gervásio, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia. E se os prazos são cumpridos em alguns hospitais, “tudo depende das instituições”, remata. Ao mesmo tempo, números oficiais do ano passado davam conta de doentes com cancro que chegavam a aguardar quatro meses por uma intervenção cirúrgica, apesar de o tempo médio de espera estar a diminuir.
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Há outro problema, sublinha Helena Gervásio. Como não está definido que hospitais podem tratar doentes com cancro e com que critérios, algumas unidades fazem-no sem ter capacidade técnica. A médica refere a situação de doentes operados em hospitais distritais ou clínicas privadas pequenas. “Há doentes que já nos chegam operados. Lutamos para que [isto] não aconteça. Seja qual for o caso, deve ser primeiro estudado por uma equipa multidisciplinar.” É por isso que quando lhe perguntam se um doente oncológico português tem acesso ao mesmo tratamento que um inglês ou francês a médica responde: “Depende do sítio onde está a ser tratado e da equipa”.
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Redução de unidades
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Outra das falhas apontadas no documento passa pela “falta de uniformidade nas práticas das instituições que diagnosticam e tratam doentes” e pela fragmentação. A este respeito, Jorge Espírito Santo, presidente do colégio da especialidade de Oncologia, diz que “actualmente há cerca de 70 hospitais a tratar cancro. Tem que haver alguma redução”, admite.
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Pedro Pimentel aponta a radioterapia como “uma área crítica porque exige investimentos significativos que exigem tempo para serem montados”. “Há um claro défice de equipamentos” e o plano é duplicá-los até 2020 mas, enquanto isso, “deve ser repensado o modelo actual [de encaminhamento]”, refere o médico, que diz já ter alertado o MS.
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Maria Emília Pereira, presidente do colégio da especialidade de Radioterapia, reconhece que há listas de espera para radioterapia nalguns hospitais públicos. Mas frisa que os doentes são tratados. Já Rui Rodrigues, que dirige a unidade privada de radioterapia do Hospital Cuf Descobertas (que deixou de receber doentes dos hospitais públicos após a saída da circular do MS), traça um panorama mais preocupante. “Há listas de espera e deverá haver milhares de doentes a quem está a ser sonegado o tratamento”, avisa.
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Se se tiver em conta a disponibilidade de equipamentos (há 24 aparelhos nos hospitais públicos e 16 nos privados, quando as recomendações internacionais apontam para um mínimo de cinco aparelhos por milhão de habitantes), percebe-se que o défice é grande. A agravar, alguns aparelhos necessitam de ser substituídos, porque têm mais de dez anos. Tendo em conta a incidência do cancro na Europa, Rui Rodrigues estima que o número de doentes com indicação para radioterapia deverá oscilar entre os 25 e os 30 mil, quando actualmente são submetidos a este tratamento apenas cerca de 18 mil em Portugal. “O que acontece aos outros?”(Público)
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