quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Potencial biomarcador do cancro da próstata identificado na urina humana

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Se se confirmarem, os resultados podem prenunciar uma despistagem mais simples e o desenvolvimento de novos tratamentos
Potencial biomarcador do cancro da próstata identificado na urina humana

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Foi identificada pela primeira vez, na urina humana, uma substância que permite distinguir tecidos normais da próstata de tumores cancerosos localizados e de tumores invasivos. E que parece ser um melhor indicador da agressividade destes tumores do que a proteína PSA, tradicionalmente utilizada para detectar e monitorizar o cancro da próstata.
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Ao contrário do que foi feito em anteriores estudos, onde eram procurados genes e proteínas associados a este cancro – um dos mais frequentes nos homens –, Arul Chinnaiyan e colegas, da Universidade de Michigan, que publicam amanhã um artigo na revista "Nature", passaram a pente fino os “metabolitos” destas células – ou seja, os compostos químicos que resultam do seu funcionamento. “Quando olhamos para os metabolitos, estamos vários passos para além dos genes e das proteínas”, diz Chinnaiyan em comunicado. “Isso permite-nos olhar com muita profundidade para algumas das funções das células e para a bioquímica do desenvolvimento do cancro”.
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Os investigadores compararam as alterações que se verificavam em 1126 metabolitos, contidos em 262 amostras de tecido, sangue e urina, quer na ausência de cancro da próstata, quer na presença de um cancro localizado ou de um cancro metastático. Graças à técnica de espectrometria de massa, que separa os compostos químicos conforme o seu peso molecular, identificaram uns 60 que só apareciam nas amostras cancerosas. E entre eles, uma dezena que eram potenciais marcadores biológicos da progressão da doença, uma vez que eram mais frequentes nas amostras cancerosas que nas amostras saudáveis – e ainda mais frequentes nas amostras dos cancros mais avançados.
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Uma delas atraiu particularmente as atenções dos investigadores. Chama-se sarcosina e é um derivado do aminoácido glicina (um dos “blocos de construção” das proteínas). Os seus níveis revelaram-se elevados em 79 por cento dos cancros da próstata invasivos e em 42 por cento dos cancros em estádios mais precoces. Para mais, a sarcosina estava presente nas amostras de urina de doentes com cancro da próstata, o que sugere que talvez seja possível um dia despistar estes cancros através de uma simples análise da urina.
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Numa segunda fase do estudo, os cientistas estudaram mais de perto a sarcosina em células cultivadas no laboratório. Confirmaram assim, como esperavam, que os níveis de sarcosina eram mais elevados nas células cancerosas invasivas do que nas células normais da próstata. E mais: descobriram que, através da sarcosina, conseguiam controlar o agressividade do cancro. Mais precisamente, quando acrescentavam sarcosina às células benignas ou faziam as próprias células produzirem mais sarcosina, estas tornavam-se cancerosas e invasivas. E reciprocamente, quando interrompiam a produção de sarcosina pelas células cancerosas, diminuíam a agressividade do cancro. Estes resultados sugerem que será possível um dia tratar este cancro com substâncias que alterem o metabolismo da sarcosina.
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Chinnaiyan, que sublinha que os resultados são preliminares e exigem confirmação, quer agora testar os outros metabolitos identificados, para ver se também podem servir como marcadores da doença. “Não podemos confiar em apenas um só metabolito”, diz; “precisamos de um conjunto para diagnosticar a agressividade deste cancro com fiabilidade”. (Público)
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