quarta-feira, 5 de novembro de 2008

CHC - Electrónica põe surdos a ouvir

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Coimbra - Equipa do Centro hospitalar é pioneira em Portugal
Electrónica põe surdos a ouvir
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É uma sensação fantástica, semelhante a um milagre, aquela que sentem os surdos profundos que depois de operados já conseguem ouvir e falar como as pessoas que têm uma audição comum. Esse dom está nas mãos da equipa do Serviço de Otorrinolaringologia (ORL) do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC), onde se situa o centro nacional de implantes cocleares.
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Só este ano aquela equipa já realizou perto de sessenta intervenções para colocação de implantes cocleares, retirando igual número de surdos ao silêncio e dando-lhes acesso ao mundo dos sons e da fala.
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O implante coclear é um método terapêutico que consiste na aplicação de um dispositivo electrónico na cóclea que capta os sons da fala e do meio ambiente e faz a estimulação directa do ouvido interno, vencendo a barreira da surdez.
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A equipa do CHC está a implantar dois novos surdos por semana. "Houve anos em que não pusemos nenhum por não haver aparelhos disponíveis. O drama era então escolher o doente, mas nos últimos anos adquirimos um excelente ritmo de trabalho", disse o director do serviço, Carlos Ribeiro.
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Os implantes podem ser aplicados a adultos que já ouviram e falaram mas que perderam essa faculdade por acidente ou doença ou em crianças até aos dois anos que nasceram com surdez profunda. O primeiro ocorreu em 1985, tendo já sido aplicados mais de meio milhar de aparelhos em doentes de todas as idades. O mais novo tinha 16 meses e o mais velho 82 anos.
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Os resultados são dos melhores da Europa, devido à experiência da equipa, às características da língua portuguesa e a um método de programação e treino que é conhecido como o método de Coimbra.
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CARLOS RIBEIRO, DIRECTOR DO SERVIÇO DE OTORRINO DO CHC: "NÃO HÁ LISTA DE ESPERA"
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Correio da Manhã – Os implantes cocleares são uma aposta?
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Carlos Ribeiro – Diria que são a cara do Serviço de Otorrinolaringologia .
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– Qual é a lista de espera?
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– Não temos lista de espera. Os doentes só esperam o tempo necessário à realização do diagnóstico, que é muito rigoroso.
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– Qual o custo?
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– Cada aparelho tem um custo estimado em 20 mil euros, mas o custo total varia entre 26 e 32 mil euros, consoante se trate de um adulto ou de uma criança.
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– É uma cirurgia de risco?
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– Sim. É preciso capacidade técnica e científica para a executar.

O MEU CASO: CRISTIANO
"ESTOU A INVESTIR NA VIDA DELE"
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Ter uma vida normal, falar e ouvir como os outros meninos da mesma idade, frequentar as mesmas escolas e ter as mesmas oportunidades. É apenas isso que Bruno Bernardo pede para o filho, Cristiano, de dois anos, que nasceu com surdez profunda. Depois de noites sem dormir por não saber como retirar o filho daquele mundo de silêncio, este pai alentejano viu surgir a esperança ao saber que o menino poderia receber um implante coclear e assim "poder ouvir e falar como os meninos normais, que nascem sem qualquer limitação".
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O implante coclear – 0 500º do Serviço do Otorrinolaringologia do CHC – foi colocado a 9 de Setembro. Seguiu-se o normal processo de cicatrização e um mês depois o aparelho foi ligado e programado para receber os primeiros sons. A criança iniciou as sessões intensivas de terapia da fala que vão prolongar-se por, pelo menos, três meses.
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De segunda a quinta-feira, Cristiano fica em Coimbra, acompanhado dos pais ou dos avós e passa as manhãs no Serviço de Otorrinolaringologia a aprender a interpretar os sons que começa a ouvir e a dizer as primeiras palavras.
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A estadia em Coimbra representa um "enorme esforço" para a família, que tem poucos recursos. Só em deslocações e portagens são mil euros por mês, mas é também necessário pagar o alojamento e a alimentação.
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"Está a ser muito complicado suportar as despesas, mas o mais importante é o meu filho. Estou a investir na qualidade de vida dele", diz o pai. Cristiano tinha um ano e meio quando os pais se aperceberam de que não ouvia. Chegou a usar uma prótese, que nada resolveu.
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PERFIL
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Cristiano tem apenas dois anos, é natural de Ferreira do Alentejo, onde reside. É filho único de Bruno Bernardo, de 29 anos, operador de máquinas agrícolas, e de Daniela Cruz, de 22 anos, operária agrícola. É um menino activo e interessado em aprender. (Correio da Manhã)
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