A arte é o conjunto de preceitos ou regras para bem dizer ou fazer qualquer coisa. Viver infectado pelo virus da SIDA, é um desafio inquestionável perante uma sociedade que discrimina e estigmatiza os portadores. Há que fazer uso da arte para saber a quem dizer que se está infectado, sendo essa comunicação efectuada a um número muito restrito de pessoas, chegando-se muitas das vezes ao extremo de não se dizer a ninguém e viver num isolamento constante e permanente.
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A arte de viver o dia-a-dia é inequívocamente uma tarefa árdua. É necessário viver como se nada tivesse acontecido, como se não se estivesse infectado. No relaciomento com as pessoas, no desenvolvimento da actividade profissional, no convivio com a familia, o VIH faz parte de nós e não pode ser partilhado, no que se refere ao sofrimento que causa, pelo carga negativa que acarreta e na forma como limita o horizonte de vida.
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Nas mais diversas patologias, as pessoas falam de como se sentem, de como reagem à medicação, da evolução da doença de que são portadoras. Na infecção pelo VIH, é raro que tal aconteça, pelo que, quem dela padece, está sujeito ao isolamento. Muitas infectados tomam os seus medicamentos às escondidas, para que ninguém perceba que se encontram sobre terapia. O aparecimento de efeitos secundários, associados aos potentes medicamentos que controlam o virus, nomeadamente aqueles que progressivamente alteram o aspecto fisico das pessoas, são temíveis, por quase lhes colocarem um rótulo na testa, identificando-as como seropositivas.
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O isolamento associa-se ao aparecimento da depressão, causada quer pela frustração de se estar perante uma patologia sem cura, quer pela solidão em que se vive exaustivamente. Actualmente, com os medicamentos existentes, é provável que os portadores possam viver muitos e muitos anos. No entanto, para que tal seja possível, e porque não existem medicamentos contra uma sociedade que ainda não conseguiu aceitar e entender a SIDA como outra patologia qualquer e não marginalizar os portadores como se de escória se tratassem, é urgente que ocorra a mudança, sob pena dos infectados sucumbirem, não pela acção destruidora do VIH que transportam consigo, mas pela vivência de uma vida inteira, muitas das vezes, na mais profunda e desesperante solidão.
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É sabido que o VIH não é transmissível nas relações sociais. É sabido que existem no mundo milhões de portadores, que necessitam de viver como outra pessoa qualquer, na mais perfeita normalidade. O que está errado é a maneira de como a patologia é entendida pelas pessoas, que guardam no seu subconsciente imagens aterradoras de outrora, que já não fazem qualquer sentido. O que está também errado é encarar-se a infecção pelo VIH, única e exclusivamente, como uma doença do comportamento, quando existem milhares de portadores que foram infectados inocentemente e quando existem também muitas outras doenças provocadas pelo comportamento humano, sem que, no entanto, tal facto seja motivo de discriminação. Até mesmo aqueles que foram infectados devido aos seus actos, não devem ser acusados por isso. Existem razões que a razão desconhece e que eu saiba, ninguém consegue viver uma vida inteira mantendo uma racionalidade permanentemente eficaz. Errar é humano e todos erramos, porque somos humanos.
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A sociedade julga e aponta o dedo em todos os momentos. Quem nunca errou que atire a primeira pedra.
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A ilustração deste post, foi concebida por um seropositivo, que encontrou na arte, uma forma soberana de expressão e quem sabe, uma alternativa nobre e bela de combater a solidão e o isolamento a que provavelmente possa estar votado. ( SIDADANIA )
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