segunda-feira, 14 de abril de 2008

NUTRIÇÃO ARTIFICIAL NO AMBULATÓRIO

Programa nacional permitiria reduzir custos e melhorar qualidade de vida
-
Porto, 14 Abr (Lusa) - Portugal é o único país da União Europeia que não dispõe de um programa de nutrição [artificial] no ambulatório, um projecto que permitiria reduzir os custos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), defendeu hoje, no Porto, o especialista Paulo Martins.
-
Este médico do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital da Universidade de Coimbra (HUC), afirmou à Lusa que inúmeros doentes que precisam de suporte nutricional artificial ficam muitas vezes internados nos hospitais, consumindo recursos e ocupando vagas.
-
"Os doentes que necessitam deste tipo de tratamento sofrem de patologias que condicionam perturbações da deglutição, digestão e/ou absorção de nutrientes", disse.
-
O especialista, que falava no Porto no âmbito do X Congresso anual da Sociedade Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP), adiantou ainda que os doentes que dependem deste tipo de nutrição podem até ter alta, "mas a breve prazo regressam ao hospital por uma complicação, em regra infecciosa, condicionada pela malnutrição".
-
"É necessário mudar este cenário", defendeu Paulo Martins, acrescentando que a criação de um programa nacional de nutrição no ambulatório permitiria melhorar a qualidade de vida dos doentes ao mesmo tempo que libertava recursos e se reduzia o custo global para o SNS.
Segundo frisou, "a nutrição entérica é fundamental para a redução de complicações enquanto a nutrição parentérica é essencial para a vida".
-
Questionado pela Lusa sobre quantos doentes em Portugal precisam de nutrição [artificial] no ambulatório, Paulo Martins adiantou que não há um levantamento desse número.
-
"Perspectivam-se entre um e 100 por milhão de habitantes para nutrição parentérica" e "dois mil a quatro mil doentes por cada milhão de habitantes para a nutrição entérica", revelou.
-
Paulo Martins defendeu que o Estado deve comparticipar este tipo de nutrição, que deve estar disponível nas farmácias, em vez de apenas ser administrada nos hospitais.
-
O médico referiu que, por exemplo, a administração do Hospital de Faro, "consciente de que este é um problema", contratou uma empresa farmacêutica para distribuir diariamente, porta-a-porta, este tipo de nutrição aos seus doentes.
-
O médico lembrou que, desde 2001, a APNEP, em colaboração com a Associação Nacional da Industria Dietética (ANID), tem participado na discussão de um plano nacional de nutrição no ambulatório, mas que nada foi concretizado até agora.
-
Acrescentou que o projecto encontra-se "na gaveta" da secretaria de Estado da Saúde.
-
"Pensámos que este projecto de nutrição no ambulatório seria contemplado no programa de cuidados continuados, implementado pelo governo, mas nada aconteceu", concluiu. (RTP)

Sem comentários: