Os abusos de infância poderão estar na origem de muitos dos casos de obesidade mórbida que afectam actualmente 300 mil portugueses. Um estudo realizado pelo Departamento de Psicologia da Universidade do Minho indica que, quando assim é, a banda gástrica não soluciona o problema e a cirurgia pode mesmo ser prejudicial se não for acompanhada de apoio psicológico.
O trabalho de investigação, da autoria da estudante Susana Silva e conduzido pela psicóloga Ângela Maia, permitiu observar índices elevados de experiências adversas na infância em adultos com obesidade mórbida. Segundo explicou a investigadora, citada pelo jornal Público, foi o facto de terem constatado que "comer de uma forma compulsiva pode ser uma forma de tentar resolver os problemas" que as levou a averiguar se na origem da obesidade mórbida estão experiências adversas na infância. "Comer dá imenso jeito para resolver questões mal resolvidas", acrescentou.
Através deste trabalho, as responsáveis pretenderam fazer uma caracterização das histórias de vida das pessoas obesas, sempre acompanhadas pela suspeita de que "a cirurgia bariátrica [colocação de uma banda gástrica] não resolve tudo".
O resultado do estudo, acedido pela Lusa e divulgado pelo Público e que avaliou a prevalência de experiências adversas na infância numa amostra de 75 obesos mórbidos (com peso médio de 118,57 quilogramas) candidatos a cirurgia bariátrica, indica que a esmagadora maioria (88 por cento) dos participantes relatou a existência de pelo menos uma experiência adversa. A maioria (51 por cento) dos inquiridos relatou pelo menos quatro experiências de adversidade.
Face aos dados recolhidos o estudo refere que o comportamento alimentar de cada indivíduo "deve ser compreendido tendo em consideração a totalidade de vida do sujeito". Nesse sentido, Ângela Maia salienta a importância de os doentes obesos terem um acompanhamento psicológico, antes, durante e após a colocação de uma banda gástrica contra a obesidade mórbida.
O trabalho de investigação visou apurar se os obesos em questão foram expostos a abuso emocional, físico ou sexual, bem como a violência doméstica, abuso de substâncias no ambiente familiar, divórcio ou separação parental, prisão de um membro da família, doença mental ou suicídio, negligência física e emocional.
As conclusões indicam que "existe uma elevada prevalência de experiências adversas ocorridas durante a infância". "A maior parte dos sujeitos não era obeso durante a infância, o que reforça a ideia de que a obesidade está associada a factores ambientais e relacionais". (Farmácia)
Sem comentários:
Enviar um comentário