sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Saiba o que causa stress aos médicos

Saiba o que causa stress aos médicos
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Recém-chegados a hospitais não estão preparados para condições de trabalho, diz psiquiatra
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Os médicos recém-chegados aos hospitais portugueses não estão, em muitos casos, preparados para as condições de trabalho e as lutas pelo poder nestas instituições, onde há critérios cada vez mais economicistas, afirma o psiquiatra Marcelo Feio, informa a Lusa.
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«Há uma grande diferença entre a formação e o exercício da profissão, pois muitas vezes é necessário trabalhar com barulho constante, em locais com um entra e sai de gente e sem acesso ao material que faz falta», assinalou o coordenador da Urgência de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria.
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Além destes causadores de ansiedade, há factores agravantes, que resultam também «da perda de espírito de grupo entre os médicos», disse o responsável, que se licenciou em 1981 e fez a especialização em 1990.
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O curso geral de Medicina é composto por seis anos, seguindo-se quatro ou cinco de especialização em que o novo médico fica sob a tutela de um especialista e é nesta fase que começam a surgir alguns problemas.
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«Se nos primeiros seis meses a um ano há alguma condescendência, a seguir a exigência acentua-se e nem sempre o novo médico tem segurança para tomar decisões com uma elevada componente de ambiguidade», afirmou Marcelo Feio, segundo quem, «pessoas menos confiantes ou mais susceptíveis» podem ficar pelo caminho.
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«Muitos médicos que não aguentam ambientes de tensão ou competição são marginalizados, não conseguindo entrar em determinadas equipas e ficando numa situação de exclusão que pode reflectir-se ao longo de toda a carreira», sublinhou o coordenador da Urgência Psiquiátrica, que também lecciona, dá consultas e faz alguns internamentos.
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Para o psiquiatra, de 52 anos, mais do que o confronto com casos chocantes, «como acidentados graves, crianças com neoplasias [que podem ser malignas, como alguns carcinomas] ou pessoas com malformações», os maiores causadores de stress nos médicos são problemas de índole laboral.
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Na opinião de Marcelo Feio, além de existir «uma grande variedade de vínculos laborais e até a ausência de qualquer vínculo», actualmente procura-se «rentabilizar ao máximo - e por vezes de forma desumana - o pessoal médico, o que origina rupturas».
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O coordenador da Urgência de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria revelou ainda que «há muitas lutas internas pelo poder e para subir na hierarquia dentro dos hospitais portugueses» e criticou que, na avaliação dos médicos, «critérios que no passado eram clínicos se tenham tornado quase exclusivamente quantitativos». (Portugal Diário)

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