segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Insuficiência Renal Crónica (IRC)

Anos à espera para poder crescer
DIANA MENDES
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15 crianças esperam por um rim em Portugal
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Duarte e Dinis são iguais. O seu nome começa pela mesma letra, nasceram exactamente no mesmo dia e nada os distingue diante do espelho. Entre os dois, há apenas uma diferença de seis centímetros. Com três anos, Duarte é insuficiente renal crónico, uma doença que o faz depender de uma máquina mais de dez horas por dia e que é a única culpada pelo atraso de crescimento em relação ao irmão gémeo. Como ele, havia 234 crianças com a doença em 2006, metade das quais dependia de diálise ou de um transplante. Nesta altura, havia crianças à espera de um rim há cinco ou seis anos, apurou o DN.
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A insuficiência renal crónica (IRC) aumenta com a idade e afecta 14 mil portugueses actualmente, nove mil dos quais estão a fazer diálise e quatro a cinco mil estão transplantados, disse ao DN Carlos Silva, o presidente da Associação Portuguesa de Insuficientes Renais. A perda total da função dos rins, que obriga a fazer terapêutica de substituição, é a situação mais grave, visto que um em cada dez portugueses sofrem de doença renal.
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Se a doença tende a aumentar com a idade, associada a outras como a diabetes ou hipertensão arterial e a diversos problemas como as infecções dos rins, existe uma minoria preocupante e que merece cuidados especiais: as crianças.
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De acordo com dados da Lusotransplante, há 15 crianças em lista para serem transplantadas esperando 17 meses em média, contra os 54 dos adultos. Em Novembro de 2007, a lista contemplava mais três crianças, de acordo com Helena Jardim, presidente da secção de nefrologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Em 2006, os hospitais fizeram nove transplantes a crianças.A espera continua a ser grande, apesar de, até aos 18 anos, os doentes serem receptores prioritários. "Muitas vezes não surge dador compatível devido à situação clínica do dador", diz Helena Jardim. "Sempre que possível, deve ser dador pediátrico, o que só por si é mais difícil. Se for um dador jovem, até aos 30 anos, por exemplo, faz sentido. Acima disso, não é aconselhável", acrescenta Hélder Trindade, presidente da Lusotransplante.
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Dados recolhidos pela pediatra apontam, por exemplo, esperas desde 2000 ou 2001, mas há casos de apenas seis meses. Às vezes, é uma questão de sorte. A idade média destes doentes é de 11,7 anos, mas há meninos de quatro ou cinco anos. E até de três, o caso do Duarte, que ainda não reúne condições.
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Se 234 crianças têm insuficiência renal crónica, metade ainda não reúne as condições para diálise ou transplante. Optam antes por um tratamento conservador à base de medicamentos - que controlam os níveis de potássio, cálcio, proteínas - , mas também pelos suplementos nutricionais, nem sempre comparticipados.
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Em todo o caso, a diálise deve ser evitada ou feita o mínimo de tempo possível. "É uma grande agressão e altera a estabilidade das crianças. Há risco de infecção e alteração da estabilidade hemodinâmica. Não crescem e chegam a ser alimentadas com sondas", lembra Helena Jardim.
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A IRC significa que os rins não estão a funcionar. Um problema que dificulta a extracção de substâncias tóxicas do corpo, o controlo da água, cálcio e sais minerais, a produção de glóbulos vermelhos e de hormonas que intervêm na pressão arterial.
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No caso das crianças, há várias causas que levam à IRC, "como as malformações congénitas. Muitas são detectadas na gravidez e podem ter tratamento, como o refluxo urinário. Há ainda causas neurológicas, como a espinha bífida, ou causas imunológicas", explica António Pina, cirurgião da equipa de transplantação do Hospital de Santa Cruz, em Lisboa. (Diário de Notícias)

1 comentário:

Robin Hood disse...

Vim através do Silêncio Culpado. Vim e gostei e voltarei.

É fundamental ter uma panorâmica destas situações que, directa ou indirectamente, a todos afectam.

Um abraço