quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Deixar de fumar

Acupunctura e hipnose não são eficazes para deixar de fumar
-
Todos os médicos devem abordar a cessação tabágica com os doentes fumadores. As mulheres precisam de mais do que ajuda farmacológica.
-
Os substitutos de nicotina (adesivos e pastilhas) estão entre os métodos mais eficazes para deixar de fumar. Já "a acupunctura e a hipnose têm efeito negligenciável ou nulo", afirmou o director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da Faculdade de Medicina de Lisboa, António Vaz Carneiro, que coordenou um livro onde diz aos médicos o que resulta e o que não resulta em cessação tabágica."Não é opinião minha, nem opinião deste centro. É ciência", disse ontem o médico na apresentação de Norma de Orientação Clínica para Cessação Tabágica, um manual quefaz um resumo dos principais estudos científicos internacionais (foram incluídos 54) sobre a eficácia dos métodos para deixar de fumar.
-
O livro pretende ser um manual pronto-a-usar para médicos que queiram levar os seus doentes a abandonar o vício ou mesmo promover consultas de cessação tabágica. O director-geral da Saúde, Francisco George, referiu que é um dever dos 35 mil médicos que exercem em Portugal abordar a questão com os doentes, não precisando de haver recurso a consultas da especialidade - existem apenas 200 no país.
-
Vaz Carneiro sublinhou que basta uma conversa de cinco minutos com o médico de família para que a probabilidade de o doente deixar de fumar aumente em 30 por cento. Os métodos farmacológicos - substitutos de nicotina, ansiolíticos e antidepressivos - revelaram-se, nos estudos analisados, os mais eficazes.
-
Mas há situações em que são precisos auxiliares. Por exemplo, as mulheres são um grupo em que é importante conjugar os medicamentos com outro tipo de apoios, lê-se.
-
O manual também aborda métodos alternativos. No caso da acupunctura e técnicas relacionadas, como a auriculoterapia (que em vez de agulhas usa choques eléctricos), "não há evidência consistente de que sejam intervenções eficazes na cessação tabágica". Não foi possível concluir se os seus efeitos são diferentes do "efeito placebo", lê-se. O livro não deixa de se referir que os estudos seleccionados "apresentam inúmeras falhas metodológicas".
-
Também o uso da hipnose para deixar de fumar "não demonstrou um efeito superior nas taxas de abandono do tabaco, aos seis meses, face a outras intervenções" ou mesmo "à ausência de tratamento". "Essas intervenções são basicamente inúteis, infelizmente", o que não quer dizer que não funcionem com algumas pessoas, ressalvou Vaz Carneiro.
-
O coordenador do livro afirmou "que técnicas como a auto-ajuda [panfletos, meios audiovisuais ou programas de computador] são discutíveis" e que "o apoio telefónico perde-se ao fim de poucas semanas". A terapia de grupo é mais eficaz do que a auto-ajuda, mas exige do fumador "o tempo e o esforço necessários para participar nas reuniões".
-
Responsáveis e técnicos na área da acupunctura e hipnoterapia contactados pelo PÚBLICO são unânimes: só o "desconhecimento" e a "má vontade" justificam que se diga que as técnicas são ineficazes.João Morais, hipnoterapeuta, sente que os resultados ontem apresentados se devem ao "descrédito com que a hipnose clínica tem sido tratada no meio académico", o que leva a que pessoas não credenciadas a pratiquem sem sucesso, "quando ela devia ser obrigatória nas licenciaturas na área da saúde".
-
Carlos Machado Saraiva, da clínica NãoFumoMais, frisa que a auriculoterapia (próxima da acupunctura) "também se baseia na evidência": as 15 clínicas já receberam "mais de dez mil clientes com uma taxa de sucesso superior aos 90 por cento nos primeiros seis meses". O responsável diz que basta uma sessão para que o doente fique curado, "podendo pedir o dinheiro [370 euros] de volta se recair".
-
Pedro Choy, responsável por 18 clínicas de acupunctura, diz que afirmações sobre a ineficácia da técnica têm a ver com "má vontade" da "medicina convencional" e "de órgãos de cúpula da medicina" e lembra que a Organização Mundial de Saúde a recomenda para várias patologias, entre elas o tabagismo, onde as taxas de eficácia atingem os 90 por cento. Em países como a Suécia e o Reino Unido, o tratamento é comparticipado pelo Estado, sublinha.
-
Um dos pioneiros da técnica em Portugal afirma que hoje existem no país cerca de cinco mil pessoas a exercer e entre mil a duas mil clínicas.
-
A Lei do Tabaco dá um "novo direito aos portugueses" e deixa poucas dúvidas, pelo que "não faz sentido discutir formas de a contornar", disse ontem o director-geral da Saúde, Francisco George. Defendeu que o diploma se aplica a todos os espaços colectivos, "quer sejam públicos, quer privados". Assim, a proposta da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto de transformar os estabelecimentos nocturnos em associações culturais e recreativas não é exequível, já que "não vão estar só os sócios" no espaço que, ao ser de "uso colectivo, está sujeito à lei". (Público)

Sem comentários: